Sexta-feira. Dia de faxina. Jogarei no lixo tudo que me dói, me entristece e me cansa. Varrerei para fora aquela tristeza que se esconde embaixo do tapete e no canto das paredes, esperando uma oportunidade para se mostrar presente. Passarei um pano cheio de esperança em cada móvel com resquícios de desilusão. Lavarei todas as roupas, para tirar as lembranças tristes, e todos os lençóis, para tirar a marca das lágrimas. Limparei cada prato com as sobras dos alimentos que mal toquei, pelo embrulho no estômago que aparece vezenquando para tirar a vontade de viver.
Após uma tarde inteira de limpeza, reflexões e cantorias enroladas em inglês com o volume no máximo, me senti realmente viva, como se fosse uma criança que acabou de aprender a andar, e quisesse vasculhar cada canto da casa à procura de surpresas e aventuras. Me joguei nas almofadas recém arrumadas do sofá, e soltei um suspiro, misto de paz e sossego com uma boa dose de trabalho bem feito. Por um momento quase microscópico, senti liberdade, junto de uma vontade absurda de correr porta afora e conhecer o mundo. Só então me lembrei que tudo isso traria novas crises, lágrimas e problemas. Palavras, memórias e conselhos giraram ao meu redor.
Fechei os olhos por alguns segundos tentando afastá-los de mim. Abri meus olhos lentamente, um de cada vez, fazendo preces silenciosas para que o pesadelo não se tornasse realidade, mas era tarde demais. Pratos sujos, lençóis marcados, tristezas espalhada por cada canto da casa, e desilusões… A sujeira havia voltado.
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