15 de set. de 2011

Welcome to my life



Guriazinha doce aquela, diziam as línguas, a imagem da inocência. Cabelos ruivos, sardas delicadas, sorriso de propaganda. Tinha gingado de gente atrapalhada, porém tal defeito se transformava em qualidade para quem sentisse pena de seus olhos de des-culpa. Sim, des-culpa. Culpa. Vivia pedindo perdão com os olhos por ser tanta coisa em uma coisa só. Eram tantas, que ela mesma não conhecia todas as faces escondida em suas sardas. Quem mergulhasse em seus olhos, veria que eras cristal. Brilhante, chamativo, e incrivelmente quebrável. Bastava-lhe um olhar demorado, uma gentileza ou um cumprimento sorridente, e já estava apaixonada. Mas para eles, nada mais era do que uma embalagem de perfume francês. Belo vidro, aroma doce, que de tão doce, era enjoativo. Descartável. Assim, ela sofria. Por não saber. Não saber qual de suas mil faces era a verdadeira. Não saber o que fazer para alguém enxergar além de sua embalagem. Pela rua, admiravam sua beleza, vezenquando demonstravam inveja por tamanha leveza que havia em seu andar. Mas ao final de cada noite, ninguém sabia, ninguém sequer desconfiava da solidão que era. Vivia só. Tão só que até em multidões sentia-se a única. Tão só que acordava vezes sem fim pela madrugada apenas para não viver mais uma manhã só. Quando alguém lhe perguntava se sentia-se sozinha no casarão antigo em que morava, respondia docemente: A gente acostuma. Ah, que mentira descarada era aquela. Jamais se acostumara com a solidão. Em datas festivas passeava pela rua, olhando pela janela famílias e amigos cantarem e rirem de pleno contentamento. Por vezes, ria junto, mas o riso jamais chegava aos olhos. A gargalhada soava falsa e sem sentido. Sentia-se uma louca dando aquela risada que mais parecia grito sufocado de desespero. Jamais dissera isso à ninguém, nem mesmo para sua melhor amiga, Ana. Doce Ana, parecia que nada nesse mundo era capaz de tirar-lhe a luz. Ana não era tão chamativa e bela, mas de longe via-se que era especial. Lembrar-se de sua 
amiga lhe fez bem, trouxe um sorriso feliz em seu 

 rosto. “Ah, minha doce Ana, se soubesses que beleza também dói…”, e ficou triste de novo.(Gabriela Santarosa

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